quinta-feira, maio 16, 2024

Jogos Memoráveis (8)... Sporting - Bolonha (Taça UEFA 1990/91)

A equipa do Sporting que eliminou o Bolonha

Nos anos 80 e 90 do século passado ninguém mais reluzia no mais alto patamar competitivo e mediático do plano internacional do que o campeonato italiano. Os melhores futebolistas do Mundo, e por consequência as melhores equipas do planeta, atuavam na Serie A italiana. Nesse sentido, os emblemas italianos ditavam leis na Europa do futebol, argumento este sustentado com a conquista de 5 Taças dosCampeões Europeus, 8 Taças UEFA e 4 Taças dos Vencedores das Taças. Isto, no período compreendido entre 1980 e 1999. Perante este cenário, para qualquer clube de outro canto qualquer do Velho Continente vencer um clube italiano numa das (então) três provas uefeiras era um feito digno de ser registado e acima de tudo enaltecido.

E na temporada de 1990/91 o Sporting alcançou o feito de eliminar um conjunto italiano da então Taça UEFA, no caso o Bolonha. Esta vitória do conjunto luso abriu-lhe pela terceira vez na sua história as portas das meias-finais de uma prova europeia, igualando, pelo menos, o registo obtido nas temporadas de 1963/64 e de 1973/74, em que chegou às meias-finais da Taça das Taças. Desta forma, o afastamento dos bolonheses garantia aos sportinguistas a primeira presença nas meias-finais da Taça UEFA, hoje denominada Liga Europa. O feito tem ainda contornos de maior glória tendo em conta que os leões de Alvalade passavam por um período de vacas magras a nível interno, isto é, já não venciam o campeonatonacional e a Taça de Portugal há 9 anos, levando neste longo período de jejum para o seu museu apenas uma Supertaça Cândido de Oliveira, arrecadada em 1987. 

O conjunto italiano não viveu bons momentos em 90/91

Não era por falta de qualidade, muito pelo contrário, que os lisboetas andavam arredados dos títulos e das grandes vitórias internacionais. Neste plantel de 90/91 o Sporting tinha nomes sonantes do futebol nacional e internacional, casos de Jorge Cadete, Balakov, Fernando Gomes, Carlos Xavier, Oceano, Luisinho, Douglas, Ivkovic, ou Careca. Deste grupo faziam ainda parte jovens oriundos da Geração de Ouro do futebol português que espreitavam por uma oportunidade no onze orientado pelo brasileiro Marinho Peres, como eram os casos de Luís Figo, Emílio Peixe, Paulo Torres, Filipe, ou Amaral, todos eles campeões do Mundo de sub-20 ao serviço de Portugal.

Quis o destino que o Sporting defrontasse nos quartos-de-final da Taça UEFA de 90/91 o 8.º classificado da Serie A da época transata, o Bolonha, clube para quem 90/91 foi uma temporada negativa a todos os títulos. O conjunto da região de Emília-Romanha obteve em termos internos uma prestação paupérrima, sendo a prova disso o último lugar do campeonato desse ano, que lhe valeria a despromoção à Serie B. Tudo correu mal ao Bolonha em 90/91, pelo que uma possível salvação poderia passar por um bom desempenho na Taça UEFA, embora os próprios meios de comunicação italianos assim que o sorteio ditou o Sporting no caminho dos bolonheses logo atribuíram o favoritismo na eliminatória aos portugueses! E quando os italianos, tão nacionalistas que são, dizem isto… ! 


E a verdade é que os dois jogos da eliminatória lhes dariam razão. A passagem do Sporting começou a ser desenhada na 1.ª mão, em solo transalpino, onde se registou um empate a uma bola. E como altura os golos fora valiam por dois, os portugueses encararam a 2.ª mão ainda com maior otimismo. Mesmo tendo pela frente uma equipa oriunda do todo poderoso campeonato italiano, eram poucos os sportinguistas que não acreditavam na passagem da sua equipa, desde logo o então presidente leonino, o excêntrico Sousa Cintra, que nas vésperas do confronto da noite de 20 de março de 1991 não admitia outro resultado que não a vitória e o regresso às meias-finais de uma competição europeia 17 anos depois. Cientes de que estavam prestes a presenciar mais um grande momento da história do seu clube, 60.000 sportinguistas lotaram o Estádio de Alvalade. E será à boleia do jornal A Bola que nas próximas linhas iremos recordar este jogo memorável que terminou com a vitória leonina por 2-0. 


Numa análise global ao encontro, o jornalista Aurélio Márcio começava por escrever que a terceira meia-final europeia do Sporting «foi muito bem conseguida, numa linda noite, fazendo regressar o futebol europeu, no seu belo esplendor, ao relvado de Alvalade, qualificação feita à custa de uma equipa italiana que sendo embora modesta – penúltima classificado do campeonato de Itália – e desfalcada de cinco ou seis jogadores, entre castigados e magoados, sempre é uma equipa de Itália, representante de um país que está no top do futebol mundial». O jornalista do jornal da Travessa da Queimada escrevia mais adiante que o otimismo exagerado do Sporting e dos seus adeptos acabou por não ter razões de o ser face a um Bolonha que depois de sofrer até ao primeiro golo leonino – à passagem do minuto 19 –, reergueu-se, organizou-se e equilibrou o encontro até aos 74 minutos, altura em que passou a jogar com menos uma unidade em campo e… se entregou ao adversário.


O Sporting entrou em campo balanceado ao ataque, com dois pontas-de-lança, Jorge Cadete e Fernando Gomes, que seriam bem vigiados pela dupla defensiva composta por Rosario Biondo e Paolo Negro. «O Sporting desde o começo, viu-se diante de uma resistência que não contava e procurava demoli-la, sem o conseguir, muito embora, aqui e ali, as situações de perigo fossem aparecendo, mas sem concretização», retratava Aurélio Márcio.

Mesmo desfalcado de muitos dos seus melhores jogadores, entre eles a sua principal estrela de então, o médio húngaro Lajos Détári, o Bolonha «obrigou o Sporting a tomar cuidados que provavelmente não esperavam». Nos primeiros 15 minutos jogava-se «como no ping-pong, os portugueses a atacar, os italianos a defenderem-se e não parecia sair-se disso», dizia a reportagem de A Bola. Até que quando nada o fazia prever, face ao que o jogo mostrava até então, o Sporting marcou. «Um golo lindo de ser ver», «bonito e panorâmico», de Jorge Cadete, corria o minuto 19, e que surgiu na sequência de um cruzamento «longo da direita para a esquerda, com a bola muito por alto, o defesa Biondo ficou-se distraído, e Cadete arrancou, saltou, e com a cabeça, muito no ar, atirou-a para a baliza, fazendo-a cruzar pela frente de Valleriani, que se lançou mal e atrasado», assim foi descrito o golaço do ponta de lança português.  


O golo despertou os portugueses, que começaram a dar mais trabalho à defesa italiana, obrigando-a a correr muito mais, o que originou a abertura de algumas brechas na muralha defensiva bolonhesa. Carlos Xavier enviou ainda uma bola ao poste numa primeira parte onde o azar bateu à porta dos italianos, que aos 30 minutos já tinham esgotado as duas substituições permitidas, por motivos de lesão de De Già e de Schenardi. Para complicar ainda mais a tarefa dos transalpinos, Cadete, moralizado pelo grande golo apontado, era um verdadeiro “diabo à solta”, fazendo diversos sprints que faziam estremecer o Bolonha. Mas todo este entusiasmo leonino foi esmorecendo, e o jogo volta ao ritmo inicial. Os italianos equilibram a balança dos acontecimentos, o que intranquiliza um Sporting que sabe que um golo do adversário empata a eliminatória e obriga a um prolongamento. O Bolonha percebe a inquietude dos portugueses e vai procurando o tento da igualdade. Porém, esta era uma noite de infortúnio da squadra do norte de Itália. A 15 minutos do final, o influente médio Pietro Mariani sai lesionado após um choque com o defesa Leal, e como a sua equipa já tinha esgotado as substituições, esta fica a jogar com menos uma unidade. Os italianos ainda resistiram durante alguns minutos a mais esta contrariedade, mas a diferença numérica acabaria por fazer mossa, e aos 80 minutos Verga derruba Filipe dentro da área, tendo o árbitro francês Joel Quiniou apontado de pronto para a marca da grande penalidade. Na conversão, Fernando Gomes, o bi-bota de ouro, faria o golo da tranquilidade leonina, o golo que carimbou a histórica passagem às meias-finais da Taça UEFA.

Após o apito final, sorrisos de euforia tomaram conta das bancadas e do relvado do Estádio de Alvalade. O jornalista de A Bola, Vítor Cândido, outro dos profissionais destacados para a cobertura deste encontro, relata que nos balneários há «bolo e champanhe. Comemorava-se a entrada dos “leões” nas meias-finais da Taça UEFA e… o 44.º aniversário do técnico vitorioso Marinho Peres». No sentido de ficar a festejar este duplo motivo, digamos, o treinador brasileiro delegou no seu adjunto, António Dominguez, a tarefa de falar aos jornalistas, que diria que o Sporting fez o jogo possível sem perder a cabeça. «O Sporting controlou o jogo durante os 90 minutos, mas não podíamos entrar em loucuras, não podíamos sair para o ataque de qualquer maneira. Isso podia sair-nos caro. O resultado foi escasso para tantas oportunidades desperdiçadas. Fizemos uma exibição normal, condizente com as nossas pretensões». Quando questionado sobre o adversário preferido para as meias-finais, o treinador-adjunto foi perentório em dizer que técnico e jogadores já tinham falado sobre isso, e… «queremos o Roma. Era bom para a receita, para projeção da nossa equipa e para… vingarmos o Benfica», tendo em conta que a equipa da capital italiana havia afastado da prova os vizinhos da Segunda Circular logo na 1.ª eliminatória.

Do lado do Bolonha havia, naturalmente, um ambiente de tristeza, «os jogadores estavam destroçados. (…) No corredor de acesso aos balneários, todos os responsáveis do clube, incluindo o presidente e muitos dirigentes, olhavam uns para os outros emudecidos», escrevia Vítor Cândido. Por sua vez, o técnico Luigi Radice, um dos três treinadores que nesta temporada negra orientou a turma italiana, diria estar «muito satisfeito com os meus rapazes pela forma como se bateram. O momento difícil que atravessamos não deu para fazer mais. Com esta “squadra” era impossível fazer melhor. Faltam-nos muitos jogadores importantes. Não podíamos ter veleidades. Ainda para mais, a infelicidade não nos deixou de perseguir neste jogo». Questionado sobre as possibilidades do futuro do Sporting na competição, o técnico italiano vaticinou dificuldades aos portugueses. «Penso que a Roma é melhor. Não será impossível, mas parece-me que será muito difícil para o Sporting superar a Roma ou o Inter. Só passou o Bolonha porque estávamos desfalcados. Fomos uma equipa sem soluções para chegar à vitória». E como estava certo Radice, pois nas meias-finais o Inter acabaria com o sonho dos portugueses em chegar à final.

No Estádio de Alvalade, sob arbitragem de Joel Quiniou, as equipas alinharam da seguinte forma: Sporting – Ivkovic, Carlos Xavier, Luisinho, Venâncio, Leal, Litos (Mário Jorge, 85), Oceano, Douglas (Careca, 82), Filipe, Gomes e Cadete. Treinador: Marinho Peres. 

Bolonha – Valleriani, Verga, Biondo, Negro, De Già (Anaclerio, 14), Traversa, Martino, Galvani, Tricella, Mariani, Wass (Turkyilmaz, 30) e Schenardi. Treinador: Luigi Radice.

Vídeo: SPORTING - BOLONHA



quarta-feira, maio 15, 2024

Lista de Campeões... Euro Winners Challenge Cup

 Criada em 2028, a Euro Winners Challenge Cup é a segunda competição do futebol de praia europeu a nível de clubes. A competição é disputada por equipas de segunda linha da modalidade, sendo que o seu vencedor garante a participação - na época seguinte - no certame de maior cartaz do beach soccer do Velho Continente, a Euro Winners Cup

2023: Minots Marseille (França)
2022: Rosh Haayin BSC (Israel)

2021: Não se disputou devido à Covid-19

2020: Não se disputou devido à Covid-19
2019: Lokomotiv Moscovo (Rússia)
2018: BSC Kristall (Rússia)

quinta-feira, maio 09, 2024

Efemérides do Futebol (52)...

Há 84 anos, Nunes deixava a Avenida (da Boavista) rumo à Constituição no âmbito de uma transferência recorde no futebol da Cidade Invicta

As trocas de camisola – vulgo transferências – entre clubes rivais ou vizinhos, suscitou sempre contornos de espanto ou, em muitos casos, de mediatismo. Vem isto a propósito de uma transferência que causou grande impacto na cidade do Porto no ano de 1940, há mais de oito décadas a esta parte. Mudança de camisola essa que seria protagonizada pelo então jovem e promissor médio do Boavista, Nunes, que trocaria os ares da Avenida (da Boavista) pelos da zona da Constituição, onde morava o vizinho da Invicta, o FC Porto. Uma notícia que em setembro do referido ano caiu «um tanto de surpresa», como dava conta o jornal O Norte Desportivo. E assim o foi não só pela já referida troca de camisola entre vizinhos da mesma terra, mas acima de tudo pelos valores que a transferência acarretou. 20 contos, pela “carta de desobriga”, foi quanto o FC Porto pagou ao Boavista pela transferência de António Nunes, um valor recorde para a época. Os portistas ganharam assim o concurso do futebolista ao Sporting, que também manifestava interesse na sua aquisição. O Norte Desportivo sublinhava que nunca o FC Porto tinha pago um valor tão elevado pela aquisição de um futebolista, acrescentando que se tratava ainda de uma das transferências mais caras – até então – do futebol português.

António Jesus Nunes nasceu no dia 13 de abril de 1919, no Porto, e iniciou a sua carreira de futebolista no Boavista, corria o ano de 1935. Em 40/41 ingressa então nos vizinhos da Cidade Invicta, cujas cores defendeu nas três temporadas seguintes, em mais de 60 jogos. Fez a sua estreia com a camisola do FC Porto no Campo da Constituição precisamente contra o… Boavista. Ao serviço dos azuis-e-brancos, Nunes conquistou dois campeonatos regionais. Após deixar o FC Porto, rumou para o sul, mais concretamente para a zona da Linha de Cascais, tendo ali representado o Estoril Paria durante nove temporadas.

sexta-feira, abril 05, 2024

Museu Virtual do Futebol atinge a maioridade (18 anos)




Atingimos a maioridade (18 anos). Já somos adultos, mas continuamos a encarnar o espírito de uma criança quando recebe o presente desejado, ou quando brinca com os eu brinquedo favorito. E o nosso brinquedo é e será sempre o futebol... no que ele tem de melhor e mais belo. E nós por aqui continuamos fascinados com o futebol, e me particular a sua extensa e rica história, que tem sido, no fundo, a razão da nossa existência de há 18 anos a esta parte. Resta-nos agradecer a todos aqueles que nos vão visitando, entusiastas do Belo Jogo de todas as partes do Mundo, e a todos eles asseguramos que a nossa curiosidade por descobrir, ou recordar, novas histórias não tem fim à vista. 

quinta-feira, março 28, 2024

Efemérides do Futebol (51)...

O primeiro jogo oficial da história sob os “mandamentos” da Football Association


19 de dezembro de 1863 é uma data histórico na Grande Enciclopédia do Futebol, já que neste dia, em Mortlake, nos arredores de Londres, foi disputada o primeiro jogo oficial de futebol da história sob as regras da recém-fundada Football Association (FA). O encontro colocou frente a frente o Barnes Football Club contra o Richmond Football Club, e qual terminou empatado a zero. O palco deste momento histórico foi o Limes Field, no bairro de Mortlake.

Três anos antes deste encontro, mais concretamente a 26 de dezembro de 1860, há registos de um jogo entre duas equipas de Sheffield, o Sheffield Football Club e o Hallam, mas na época se, os regulamentos da FA.


segunda-feira, março 18, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (48)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte V)

A turma da Académica de Coimbra que disputou
a 1.ª Divisão Nacional em 1941/42


Chegamos ao último capítulo desta memória sobre a derradeira e longínqua – já lá vão 82 anos – aparição do histórico Académico do Porto na 1.ª Divisão Nacional. E começamos esta derradeira viagem pela vitória dos academistas do Porto ante os academistas de Coimbra, no Estádio do Lima. “Bola cá, bola lá”, assim se afigura o encontro nos primeiros minutos, com ambas as defesas em alerta permanente. E mais uma vez, o relvado do Lima é abençoado – ou não – pela chuva que caí à hora do encontro na cidade do Porto. «As duas equipas e o árbitro (o lisboeta João Vaz) heroicamente se aguentam no terreno» escreve o jornalista ao serviço do Norte Desportivo. A chuva faz com que a partida não desperte grande entusiasmo, visto que não é possível praticar-se um futebol vistoso, dadas as condições do relvado do Lima. Os de Coimbra são os que mais tentam remar contra a maré, com tentativas de avanços no terreno, mas são os academistas que nas vezes em que se aventuram na área contrária mais perigo lá têm semeado. A Académica tem razões de queixa do árbitro lisboeta, já que em duas ocasiões reclama penalty, por derrube a Gomes e a Armando, com o juiz a mandar seguir.  As más condições do terreno fazem com que o portuense Marques abandone temporariamente o relvado, aparentemente com queixas físicas. Até que aos 33 minutos o encontro conhece o primeiro grande sinal de interesse, o golo da Académica de Coimbra. «Nini, de longe, ensaia um pontapé que sai com violência e que Santiago não pôde deter». Quase de seguida o Académico espreita o empate, não fosse o guardião Acácio fazer uma estirada espetacular. Até que na entrada para os últimos cinco minutos da primeira parte, os portuenses chegam à igualdade. «Raul, lançado pela esquerda, serviu excelentemente Julinho, e quando Acácio se lhe lançava aos pés, aquele fez-lhe passar a bola sobre o corpo, para o fundo da rede». 



O golo espicaçou os anfitriões, que apenas dois minutos volvidos ampliaram a vantagem. O lance começa em Álvaro Pereira, que executa um centro para a cabeça de Marques – que, entretanto, já havia voltado ao campo –, que desvia o esférico para Raul, que também de cabeça faz o segundo para o Académico. E assim termina a primeira metade. No recomeço os estudantes de Coimbra surgem mais velozes e lançados ao ataque. «Parece que os visitantes vão dar tudo por tudo para modificar a feição do encontro. Aparecem jogadas, agora mais claras, por parte dos visitantes». E numa delas Lemos tem uma fuga pelo centro do terreno, e de seguida cruza para a cabeça de Armando fazer o segundo tento da Briosa para espanto de Santiago. Este golo despertou os portuenses, que passaram a ter mais domínio no encontro, «obrigando os visitantes a ceder cantos em série». E como diz o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, eis que Raul Castro fez o 3-2 final à passagem da hora de jogo, garantindo assim o triunfo dos alvi-negros, que nesta partida alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Marques, Eliseu, Álvaro Pereira, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Raul.


Nova viagem de má memória ao sul de Portugal

Nesta sua derradeira aparição no Nacional da 1.ª Divisão não se pode dizer, muito longe disso, que as viagens ao sul do país tenham sido felizes para as hostes do Académico do Porto. Além dos 35 golos sofridos só na capital, os academistas encaixaram mais 13 (!) noutras deslocações a sul do Tejo. Isto é, aos cinco sofridos em Olhão na 8.ª jornada, averbaram mais oito na deslocação ao Barreiro. Caso para dizer que os ares do sul fizeram mal aos portuenses. No Campo do Rossio, «o Barreirense impôs uma toada rápida e de passes curtos que desconcertaram o adversário», escrevia o correspondente do Norte Desportivo. O jornalista retratava ainda que no primeiro quarto de hora, a equipa da “margem sul” «delineou avançadas vistosas a que os seus dianteiros deram boa conclusão». Por seu turno, o Académico alternou entre o bom e o mau, sendo que neste último capítulo o ataque esteve «muito irregular». Este encontro marcou ainda o regresso de Levy de Sousa à baliza academista, ele que apesar dos oito golos encaixados teve lances de bom desempenho, e talvez por isso no final da temporada tivesse rumado precisamente ao Barreirense. 8-1 a favor do conjunto do Barreiro num encontro em que o Académico apresentou o seguinte “onze”: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, António Silva, Marques, Eliseu, Larsen, Campos, Raul Castro, Julinho (que apontou o tento solitário dos portuenses) e Raul.


A vitória mais dilatada do Académico na 1.ª Divisão

E à 19.ª jornada o Académico do Porto tirou a barriga de misérias. E fê-lo à custa do Olhanense, que veio ao Lima “levar” nove! 9-0 foi o score daquela que foi a vitória mais robusta do combinado portuense nesta temporada. Aliás, este é o resultado mais dilatado alcançado pelos academistas nas suas cinco participações na 1.ª Divisão, estabelecendo, como tal, um recorde que perdura até hoje. A história deste encontro é simples de ser contada, e resume-se ao festival de golos do Académico, festival esse que começou mal a bola rolou pela primeira vez. Logo ao primeiro minuto Julinho marcou o primeiro na sequência de uma ação individual. Os alvi-negros dominavam os algarvios, e aos cinco minutos Raul Castro amplia a vantagem com um remate colocado. «O Olhanense parece sentir o piso relvado. A inconsistência das suas jogadas não lhes permite a realização de grandes feitos, pelo que o Académico se torna senhor da iniciativa e domínio», dizia o jornalista de serviço neste encontro, no sentido de explicar a apatia dos algarvios. Porém, a pouco e pouco os visitantes sacodem um pouco a pressão dos locais, embora sem conseguir criar perigo na baliza de Santiago. 

O Olhanense foi a vítima maior do Académico
na passagem dos portuenses pela 1.ª Divisão


O jogo perde alguma da sua beleza, dado os excessos de tentativas sem sucesso de jogadas individuais de parte a parte. Mas sobre o intervalo uma jogada individual de Julinho – que desta vez contrariou a tendência do individualismo de baixa qualidade – resultou numa grande penalidade, que Raul Castro converteu com êxito. 3-0, o resultado na saída para o descanso. No reatamento o Olhanense ainda dá um ar de sua graça, mas rapidamente o Académico esfria o ânimo algarvio e volta a assumir o controlo da partida. Aos 51 minutos Gamboa aponta o quarto tento dos academistas, que apenas três minutos volvidos veem Larsen fazer o 5-0. «Os algarvios acusam a ascendência do grupo local», e permitem que o mesmo Larsen dois minutos depois faça um novo golo. A avalanche dos portuenses não se ficaria por aqui, e Larsen, que teve uma tarde endiabrada, à passagem da hora de jogo, faz o 7-0. Aos 65 minutos foi a vez de Julinho voltar a fazer o gosto ao pé após uma série de dribles sobre os adversários, e a 10 minutos do fim este mesmo jogador, mesmo sendo carregado em falta, consegue faz o 9-0 com que foi selado o marcador. Inolvidável este jogo e o consequente resultado na história do futebol do Académico do Porto.

Os portuenses alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Álvaro Pereira, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Neca.


Regresso às derrotas no meio da ventania de Leça da Palmeira

A festa duraria pouco, já que na semana seguinte uma curta viagem até Leça da Palmeira seria concluída por um desaire de 2-0 ante o conjunto local. O jornalista do Norte Desportivo, José Parreira, relata que os leceiros iniciam a partida a jogar contra o vento e que o duelo se desenrola com uma certa velocidade. As primeiras oportunidades de golo pertencem ao Leça, «que apesar de jogar contra o vento tem sido mais equipa». Por seu turno, o Académico só a partir da meia hora esboça uma reação, que não dura muito tempo. Na segunda metade, os leceiros, desta feita com o vento a seu favor, comandam abertamente a partida. «O Académico só esporadicamente aparece sobre a meia defesa dos locais. O goal custa a aparecer, as situações de perigo desenham-se continuamente junto dos postes de Levy (de Sousa), mas os dianteiros do Leça, umas vezes por falta de sorte, outras por pelos efeitos caprichosos que o vento imprime ao esférico, não encontram a finalidade desejada». Até que aos 65 minutos acontece uma “embrulhada” na área academista, e «Rocha, por entre um cacho de jogadores, atira a um canto, sem possibilidades para Levy (de Sousa)», abrindo assim o marcador. O Leça não abranda o ritmo, continua a dominar, e já sobre o final, Mendes tem um potente remate que o guardião academista não segurou e na recarga, oportuno, Lúcio fez o 2-0 final de um encontro onde o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Eliseu, Manau, Marques, Larsen, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Carvalho.


Ânimos exaltados no duelo com os vizinhos da Invicta

Na penúltima ronda do campeonato e a precisar de pontuar para ainda ter esperanças de ficar na 1.ª Divisão, o Académico fez uma curtíssima viagem até ao Campo da Constituição, casa do vizinho FC Porto. Portistas que há muito já estavam afastados da luta pelo título de campeão, que estava já praticamente entregue ao Benfica. Sem nada a perder o FC Porto lança-se ao ataque, e logo nos minutos iniciais António Santos envia o esférico para o fundo das redes de Santiago, embora o árbitro invalide o golo por alegado fora de jogo do avançado da casa. Este foi o primeiro sinal de aviso do que iria acontecer logo aos 3 minutos, altura em que António Jorge carrega Correia Dias dentro de área. Desta feita, o árbitro Correia da Costa não tem dúvidas e assinala grande penalidade, a qual seria convertida precisamente por Correia Dias. «Os azuis e brancos usufruem maior quinhão de domínio, obrigando a defesa academista a um trabalho apurado», escreve o jornalista José Parreira. Com uma técnica mais apurada e maior pendor ofensivo, os portistas ameaçam continuamente a baliza de Santiago. Porém, aos 21 minutos o Académico tem uma oportunidade soberana para chegar à igualdade, quando numa das raras incursões à baliza de Béla Andrasik, o defesa Sárria mete mão à bola, com o juiz a apontar para a marca de castigo máximo. 

Correia Dias tenta furar a defesa academista


Na conversão, Raul Castro permite a defesa ao guarda-redes húngaro do FC Porto. Logo de seguida, Carlos Pratas envia uma bola ao poste, e já sob o intervalo este mesmo jogador faz o 2-0 a para os locais, resultado com que as equipas saem para o descanso. O jogo é retomado praticamente com o terceiro golo dos portistas, altura em que no meio de um aglomerado de jogadores na área de Santiago, Pratas é mais rápido a esticar a perna e rematar a bola para o fundo das malhas. O lance gera alguma confusão entre jogadores das duas equipas. António Santos e Eliseu agridem-se mutuamente, com o árbitro a expulsar o jogador do Académico e a deixar o portista em campo! Decisão incompreensível. Eliseu reclama da decisão, e o juiz é obrigado a chamar a polícia para retirar o atleta alvi-negro do terreno. Depois disto, Correia da Costa perde o controlo da partida, e acumula asneiras atrás de asneiras até final. Até que aos 21 minutos da etapa regulamentar Larsen foge aos adversários pelo flanco esquerdo, e aproveitando um dos raros deslizes de Andrasik faz o tento de honra do Académico, ainda assim insuficiente para evitar a derrota. Na Constituição, os academistas alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho e Raul.


Despedida inglória do palco da “Primeira”

E eis que chegávamos à 22.ª e última jornada do Nacional da 1.ª Divisão de 41/42. Jornada decisiva para as duas equipas que mediam forças no Estádio do Lima, Académico e Carcavelinhos. O conjunto da capital tinha somente mais um ponto que os portuenses, sendo que a ambos só a vitória interessava para poderem continuar a sonhar com a permanência, visto que à mesma hora também o Olhanense lutava pelo mesmo objetivo. O encontro nem parecia de decisões, já que as bancadas do Lima se apresentavam despidas de público. Até ao minuto 10 o perigo rondou com mais insistência a baliza lisboeta, sendo que nas palavras do jornalista Bolero «o balanço ao quarto de hora dá vantagem territorial aos portuenses. Vinca-se a opinião que os academistas jogam melhor. Conduzem os seus ataques com mais método. O Carcavelinhos só a espaços elabora jogadas vistosas». Contudo, aos 20 minutos, contra a corrente do jogo os lisboetas marcam. Um cruzamento de Marques é bem aproveitado por Bernardo, que de cabeça bateu Santiago. O golo animou os rapazes de Alcântara, que passam a ter uma certa vantagem sobre o adversário. No entanto, até final do primeiro tempo o Académico recupera o comando da partida, atua mais próximo da área contrária, mas os seus avançados revelam pouca perícia na conclusão dos lances. A defesa também está nervosa, e Rafael quase oferece o segundo golo aos de Lisboa. Na segunda metade o encontro não muda de feição. «Joga-se mal de parte a parte e o entusiasmo pela luta também é escasso. A bola anda cá e lá em esquemas improvisados. Joga-se como calha e como a bola quer. O jogo quase não tem história», conta Bolero. A partir dos 55 minutos o Académico procura o golo com mais vontade, e o Carcavelinhos defende a sua magra vantagem com “unhas e dentes”. A partida caminha para o final, até que um balde de água fria cai sobre os lisboetas a três minutos dos 90, altura em que Larsen faz o empate. O resultado (1-1) não agrada a ninguém, já que ambas as equipas descem de divisão. O Académico despedia-se assim do principal palco do futebol português. Os portuenses encerraram o campeonato no 10.º lugar, com 13 pontos somados. Neste derradeiro encontro na “primeira” os academistas alinharam com: Santiago, Rafael, António Jorge, Manau, Américo, Gamboa, Raul, Marques, Larsen, Raul Castro e Julinho.

sexta-feira, março 15, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (47)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte IV)

A equipa do Benfica que se sagrou-se campeã nacional em 41/42,
época em que por duas vezes aplicou a chapa 4 ao Académico

12 de abril de 1942, dia de chuva na cidade do Porto, mas nada que impedisse o Estádio do Lima de registar uma boa casa na receção ao então líder do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, o Benfica. Facto curioso, o de os encarnados serem treinados pelo húngaro János Biri, que enquanto futebolista (foi guarda-redes) tinha passado pelo Académico do Porto, precisamente na época de estreia do campeonato nacional do escalão maior. Mas neste encontro com o Benfica a contar para a jornada 13 da época de 41/22, o Académico apresenta-se em campo sem um dos seus habituais titulares, o defesa António Jorge, um algarvio de gema que figura no top 10 dos jogadores com mais jogos realizados pelos academistas no escalão maior. Depois de os minutos iniciais serem de estudo mútuo, sem que a emoção empolgasse as bancadas do Lima, eis que «o Académico denota boa convicção no sentido de dar à pugna o máximo rendimento», escrevia o jornalista Domingos Castro. O Benfica respondeu de forma positiva à postura dos portuenses, e com uma «série de regulares combinações invade o terreno do Académico com mais insistência». E no seguimento dessas tentativas eis que Alfredo Valadas efetua um forte remate do lado esquerdo do seu ataque, com a bola ainda a raspar em Rafael e a aninhar-se no fundo das redes de Levy de Sousa. O golo trouxe mais alma aos benfiquistas, que assumiram o controlo da partida, e apenas um minuto volvido, em mais uma jogada de ataque bem conduzida, Nelo Barros aponta o segundo golo da tarde para os visitantes. «Os alvi-negros não acusam a desvantagem. Nota-se, no entanto, que mercê da vantagem do vento o Benfica insiste com mais frequência e Levy (de Sousa) é chamado várias vezes a intervir», analisava o jornalista do Norte Desportivo que esteve de serviço neste jogo. 



A partida continuava a ser disputada debaixo de chuva torrencial, e com o relvado do Lima alagado, ambas as equipas têm dificuldade em explanar o seu futebol. Ainda assim, o Benfica continua por cima dos acontecimentos, e só aos 35 minutos o guardião encarnado, Martins, é chamado a intervir com mais afinco. A partir daqui o Académico acreditou que podia fazer mais, e esse mais foi mesmo o golo, e Marques consegue-o na reta final da primeira parte. Com o relvado empapado o futebol joga-se de forma mais individual, e numa dessas jogadas a solo, Francisco Rodrigues tem uma investida pelo flanco direito, endossa depois a bola para Nelo Barros, que com um potente remate que leva a bola a bater na barrar e a dirigir-se depois para o fundo das redes. 3-1 para o Benfica na saída para o descanso. A chuva cai cada vez com mais intensidade no Porto, encharcando ainda mais o terreno de jogo. O Académico começa melhor. Álvaro Pereira dá o primeiro sinal de aviso no reatamento, com o esférico a sair ao lado. Depois disto o Benfica volta a invadir o meio campo contrário, tecnicamente os seus jogadores são mais evoluídos, e acima de tudo adaptam-se melhor às condições do tapete verde. E mercê da superioridade patenteada, eis que aos 65 minutos os benfiquistas chegam ao quarto golo. A jogada é feita entre Francisco Albino e Joaquim Teixeira, com este último, bem colocado em frente à baliza, a não dar hipóteses a Levy de Sousa. O jogo perde a partir daqui algum interesse, com o Benfica a gerir calmamente a folgada vantagem. Porém, em jogada de transição, Marques aproveita uma jogada confusa na área de Martins para estabelecer o resultado final 2-4 a favor dos lisboetas, que iriam chegar ao final desta maratona que é o campeonato nacional com o título de campeões no bolso.

Nesta partida o Académico jogou com: Levy de Sousa, Eliseu, Rafael, Manau, Guimarães, Gamboa, Raul Castro, Larsen, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.


Pesadelo em Lisboa (parte III)

Aquela que seria a quinta e última viagem do Académico a Lisboa no âmbito desta edição do campeonato nacional, ficou saldada pela goelada mais pesada que a turma orientada por Albertino Andrade sofreu nesta época. 11-2 ante o Sporting. No Estádio do Lumiar pouco público, não só porque o adversário era pouco convidativo, mas de igual modo porque o Sporting de Joseph Szabo estava longe de encantar os seus adeptos. E na realidade o jogo teve pouco interesse, como contou o correspondente do Norte Desportivo na capital. «O Sporting venceu sem grandes dificuldades, e para tal não necessitou de se empregar a fundo. A sua defesa não teve muito que fazer, porque a linha de médios conseguiu tomar ascendente sobre o ataque contrário. A linha dianteira dos leões gisou alguns belos esquemas de jogo, atuando com um equilíbrio notável», analisou o jornalista destacado para este encontro.

Às mãos deste Sporting, o Académico sofreu a derrota
mas pesada da época: 11-2


Por sua vez, do lado do Académico só a defesa e o guarda-redes mereceram alguns elogios, sobretudo Levy de Sousa, que fez magníficas defesas. A linha de meio campo e o ataque academista «raramente tiveram jogadas capazes de permitir fácil seguimento». O Sporting foi inequivocamente superior, a prova disso é que ao intervalo a vantagem dos lisboetas era de 5-1. Na segunda metade o marcador foi dilatado… e de que maneira! Mais seis golos para os leões, sendo que ao décimo o azar bateu à porta do Académico. Levy de Sousa teve de sair do campo, por motivo de lesão, e numa altura em que ainda não havia substituições, Julinho foi para a baliza, ainda a tempo de a dois minutos do fim sofrer o 11.º golo do Sporting. E podiam ter sido mais, não fosse a defesa do Académico ter tido «o papel de mais relevo com algumas intervenções magníficas que obrigaram o Sporting a inutilizar algumas jogadas que aparentemente dariam pontos (golos)», elucidou o jornalista.

Com estes 11 golos sofridos, o Académico elevou para 35 o número de tentos encaixados na capital! Julinho e Raul Castro apontaram os tentos de honra dos academistas no jogo do Lumiar, sendo que os portuenses alinharam com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Julinho, Marques e Gamboa.


A vingança (ante o Unidos de Lisboa) serviu-se com três golos

Na 15.ª jornada o Académico obteve a sua quarta vitória na temporada, um triunfo que teve um certo sabor a vingança pelo que se tinha passado na primeira volta do campeonato. A turma portuense bateu no Lima, por 3-2, o Unidos de Lisboa, equipa esta que tinha derrotado os academistas por 10-1 em Lisboa. Foi mais uma partida disputada debaixo de chuva, que nas palavras do jornalista do Norte Desportivo, Joaquim de Castro, contribuiu para a má qualidade do futebol praticado. «Joga-se sem plano, definido à mercê do que o jogo dá», retratou o jornalista. O Unidos começa a registar um maior domínio territorial, com o Académico a ripostar, sendo que as suas incursões à área lisboeta eram sempre perigosas. «Numa delas Julinho passa em profundidade a Álvaro Pereira, que marca aos 16 minutos, imparavelmente, o primeiro goal do Académico. Este ponto parece despertar um pouco o ânimo do grupo academista que consegue usufrui um certo domínio», retratou Joaquim de Castro. Os portuenses acercam-se cada vez com mais perigo da baliza de Eduardo Santos, desperdiçando clamorosamente algumas oportunidades, como seria o caso de Marques após passe “açucarado” de Julinho. E como quem não marca sofre, o Unidos de Lisboa acaba por chegar à igualdade à passagem da meia hora. Arnaldo Carneiro desmarca Tanganho, que perante a indecisão da defesa local bateu Santiago, guarda-redes que substituiu neste encontro o habitual titular, Levy de Sousa. 

Álvaro Pereira


O jogo mudou de feição, isto, é o Unidos passou a dominar, ao passo que o Académico entregou-se em demasia aos trabalhos defensivos, permitindo aos lisboetas criarem várias ocasiões para ampliar o marcador. Não foi de estranhar que ainda antes do descanso, na marcação de um canto, «depois de uma embrulhada junto às redes de Santiago», Arnaldo Carneiro fizesse o 2-1 para os visitantes. Na segunda metade, e com o relvado do Lima alagado, o Académico surge com outra atitude, mais mandão, uma postura que seria premiada com a reviravolta no marcador. «O Unidos começa a sofrer um domínio dos academistas», até que num ataque pelo lado esquerdo, «Álvaro Pereira endossa a bola a Julinho, este parece perder a excelente oportunidade de passe, mas insiste e marca o segundo aos seis minutos», assim relatou o jornalista do Norte Desportivo. Arnaldo Carneiro ainda introduziu a bola na baliza de Santiago, mas o golo foi de pronto invalidado por nítido fora de jogo do avançado lisboeta. E eis que na sequência da marcação de um pontapé de canto Álvaro Pereira faz o golo da vitória (3-2) academista. E sobre este último futebolista, há que voltar a referir que a par de Levy de Sousa foi o único homem que esteve nas cinco participações do Académico do Porto na 1.ª Divisão Nacional. Mais do que isso, Álvaro Pereira é o jogador com mais jogos disputados pelos academistas na elite do futebol luso, 58 encontros para sermos mais precisos.

Diante do Unidos de Lisboa os portuenses alinharam com: Santiago, Rafael, António Jorge, Eliseu, Américo, Guimarães, Raul Castro, Gamboa, Larsen, Julinho e Álvaro Pereira.


Derrota tangencial no Campo do Benlhevai (Guimarães)

Na 16.ª jornada a equipa treinada por Albertino Andrade viajou até ao berço da nação, a Guimarães, para defrontar o Vitória local. Partida onde na primeira meia hora os academistas se mostraram «mais ao ataque, dando ensejo a que a extrema defesa dos vimaranenses brilhe em algumas intervenções decididas», escreveu o correspondente do Norte Desportivo encarregue de contar as incidências do encontro. Até que no último quarto de hora da primeira metade os locais ganharam ascendente, obrigado Santiago a intervir com redobrada atenção e perícia em duas ocasiões. 

Campo do Benlhevai (Guimarães)


Mas seria o Académico a abrir o marcador, por intermédio de Larsen, aos 26 minutos, na sequência de um canto apontado por Raul Castro. Pouco depois da meia hora Alexandre empata após um bom passe de Arlindo. Oito minutos volvidos o autor do primeiro tento dos vimaranenses bisou, depois de receber a bola dos pés de Ferraz. Na segunda metade, de nada valeu aos portuenses a pontaria afinada de Larsen, autor de mais dois tentos, já que Ferraz e Miguel asseguraram a vitória… do Vitória no Campo do Benlhevai por 4-3.

O Académico do Porto alinhou com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Raul Castro, Julinho, Larsen, Álvaro Pereira e Raul.

(continua)

quinta-feira, março 14, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (46)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte III)


Estreante nestas andanças de 1.ª Divisão Nacional era o Leça, clube modesto que nesta primeira aparição entre os “Grandes” se fazia representar na sua esmagadora maioria por jogadores da terra, todos amadores, e sem experiência no mais alto patamar do futebol luso. Leça que se deslocou ao Estádio do Lima na 9.ª jornada para disputar um «jogo de vizinhos» como lhe chamou o jornalista Bolero, do Norte Desportivo. Perante reduzida assistência a partida teve um início tímido, sendo que nos primeiros cinco minutos há apenas a registar uma oportunidade de golo perdida do academista Álvaro Pereira. Apesar de ser disputado a grande velocidade, o encontro não apresenta um padrão tático definido, o que o torna um pouco desinteressante. «Ambas as equipas jogam à base da energia, com uma ou outra jogada onde se vislumbra o desejo de conjunto (…) Uma e outra defesa, continuamente em ação, batalham ardorosamente. Se os setores dianteiro e médio têm trabalho sucessivo, o mesmo sucede com as extremas defesas, sempre na liça. Tem motivos de certo agrado esta partida entre leceiros e académicos», assim retratava Bolero.

A equipa do Leça que disputou a 1.ª Divisão em 41/42

À passagem da meia hora de jogo o Académico toma conta dos acontecimentos, perante um Leça que começa a dar sinais de alguma fraqueza à medida que se aproxima o intervalo. Levy de Sousa, guarda-redes do Académico do Porto, é um mero espectador, em contraste com Jaguaré – não o excêntrico guardião brasileiro que jogou no Académico anos antes, mas sim Alfredo Dias, conhecido pelo Jaguaré do Leça – que tem trabalhos redobrados. A avalanche academista produziu resultados antes do descanso, com Marques e Larsen a darem expressão ao marcador. A toada de jogo manteve-se na segunda metade, e quando estavam decorridos 62 minutos Raul Castro desfere um remate a cerca de 30 metros da baliza de Jaguaré, guardião que é traído pela trajetória da bola e não evita desta forma o terceiro tento dos portuenses. Tecnicamente o Académico era superior ao seu adversário, e o marcador seria fechado por Larsen a 15 minutos do fim, na sequência de um canto apontado por Machado. 4-0, vitória de um Académico que alinhou da seguinte forma: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Marques, Julinho e Álvaro Pereira.


O derby da Invicta pende para o lado azul-e-branco

E na 10.ª ronda houve aquele que foi o primeiro dérbi da Cidade Invicta no patamar mais alto do futebol em Portugal. Académico e FC Porto mediram forças no Lima. O jornalista Lopes Gaya conta que os portistas entraram em campo a pressionar os academistas, mostrando assim «certas tendências para abrir o ativo, porque aparecem com mais frequência no ataque. Levy (de Sousa) é chamado duas vezes a intervir, e fá-lo com certa felicidade a dois remates, um de Pinga e outro de António Santos». Após este começo mais afoito dos azuis e brancos o jogo entra numa toada de maior equilíbrio, com o Académico a espreitar com mais frequência o ataque, pese embora com a defesa portista sempre atenta. Até que à chegada da meia hora de jogo o FC Porto aplica dois rudes golpes ao Académico. O mesmo é dizer dois golos apontados quase de rajada. O primeiro por intermédio do possante avançado Correia Dias, aos 24 minutos, e o segundo dois minutos volvidos por Carlos Nunes. A equipa comandada pelo técnico Mihaly Siska saiu para o intervalo em vantagem, descanso esse que lhe parece ter feito mal, a julgar por uma entrada na segunda metade algo relaxada. Aproveitou o Académico que logo aos 10 minutos reduz a desvantagem. «Larsen lança um bom centro sobre a esquerda, a bola vai para Julinho que marca (passa) para Álvaro Pereira que fuzila rápido as redes de Béla (Andrasik)». A bola vai ao centro do terreno e… novo golo para o Académico. Julinho recebe a bola de um companheiro seu, e sem marcação corre em direção à baliza portista, rematando sem hipóteses para o fundo das redes. Estava feito o empate para delírio da claque do Académico, que «aplaude com entusiasmo a sua equipa». Do outro lado os adeptos do FC Porto também puxam pelo seu conjunto, e «estabelece-se um curioso duelo de claques. Um orfeão ruidoso a dar ambiente de espectativa ao encontro», descreveu Lopes Gaya. O FC Porto parece despertar da entrada sonolenta, e aos 65 minutos o árbitro Vieira da Costa assinala um livre perigoso para a baliza de Levy de Sousa. Na cobrança, António Baptista envia com habilidade a bola para o fundo da baliza academista, colocando novamente a sua equipa em vantagem. Aos 42 minutos, os portistas acabam com as esperanças dos seus vizinhos em pontuar. «Pratas desce e é carregado com certa violência. Pinga marca o castigo direto com um pontapé bem colocado e fixa o resultado em 4-2». No derby da Invicta o Académico alinhou com: Levy de Sousa, Rafael, António Jorge, Guimarães, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

Lance do dérbi da Cidade Invicta, entre Académico e FC Porto

Na derradeira jornada da primeira volta do campeonato o Académico voltou a não ser feliz na deslocação a Lisboa. Desta feita seria o Carcavelinhos a aplicar a chapa 6 aos portuenses. Sobre encontro não conseguimos encontrar o relato escrito das incidências do mesmo.

Treinador do Académico não atira a toalha ao chão

Conseguimos sim descobrir uma pequena entrevista concedida ao Norte Desportivo pelo treinador do Académico do Porto nesta temporada, Albertino Ferreira de Andrade, a sua graça. Nesta troca de palavras com aquele jornal portuense, o técnico fazia um balanço da primeira volta do campeonato, começando por opinar que tinha gostado de ver a equipa do Sporting em ação, e que em seu entender o FC Porto parecia querer regressar à boa forma do passado. 

O treinador do Académico:
Albertino Andrade

E sobre a sua equipa, Albertino Andrade não atirava a toalha ao chão, pelo contrário. «O orientador técnico do Académico parece, no entanto, não possuir fibra para o desânimo. (…) Sente na entrega à preparação física dos seus pupilos o melhor dos seus esforços. Percebe nos jogadores de futebol imensas deficiências, que procura corrigir, assim como determinados defeitos de formação». E mais adiante, ao falar dos resultados averbados até então, diz mesmo: «Pouca sorte, muito pouca sorte, é o que tem havido».


Nova viagem para esquecer à capital

O Início da segunda volta do campeonato marca uma nova viagem do emblema do Porto à capital, agora para defrontar o Belenenses, no mítico Estádio das Salésias. Os lisboetas vinham de uma vitória animadora no Campo da Constituição diante do FC Porto, na ronda anterior, e talvez por isso a massa adepta belenense fosse em grande número ver a sua equipa. Por seu turno, o Académico neste jogo «não foi melhor nem pior que noutras deslocações. A equipa, habilidosa por intermédio de alguns elementos, não tem fundo de resistência. No jogo de hoje transpareceu mais uma vez essa ideia. Em lampejos, o grupo consegue organizar algumas jogadas interessantes, mas com a sua linha de médios se divorcia muitas vezes do ataque, a equipa vive partida ao meio quase sempre», assim analisou a turma portuense o correspondente do Norte Desportivo na capital. O Belenenses entrou praticamente a ganhar, quando aos dois minutos Eliseu corta a bola com a mão dentro da área, com o árbitro setubalense Trindade a assinalar de pronto o castigo máximo. Na conversão, Feliciano marcou o primeiro tento dos azuis. O Belenenses teve quase sempre o ascendente do encontro, sendo que os campeões do Porto apenas se mostraram mais audazes no segundo quarto de hora da primeira parte. «De resto, a vontade mais forte foi a do Belenenses». Porém, contra a maré azul os academistas empatam a partida à passagem do minuto 19, por intermédio de Larsen. Empate que seria sol de pouca dura, já que três minutos passados António Jorge derruba Gilberto dentro da área e o árbitro não volta a ter dúvidas em assinalar nova grande penalidade a favor dos de Belém. Feliciano volta a não dar hipóteses de defesa a Levy de Sousa. E ainda antes do intervalo os locais ampliaram a vantagem, por intermédio de Artur Quaresma. «No segundo período, inicialmente, ainda o Académico se manteve com certa galhardia, mas depois o encontro entrou num período de certa monotonia dada a superioridade dos visitados», escrevia o Norte Desportivo. E seria dessa forma que Gilberto faria o quarto tento dos lisboetas, que praticamente sentenciou a partida, de nada valendo o facto de Larsen, aos 64 minutos, ter reduzido para 4-2, que seria, assim, o resultado final de um jogo onde o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

(continua)